quarta-feira, 11 de abril de 2012

REDAÇÃO PARA CONCURSOS - ALGUNS DEFEITOS DE ARGUMENTAÇÃO

10/04/2012
            Olá, Pessoal!
            Espero que todos estejam bem, pelo BEM, e que a PÁSCOA de todos vocês tenha sido simbólica e espiritualmente R-E-N-O-V-A-D-O-R-A!
ÊÊÊiiita que as gravações do curso Redação para Concursos aqui no Eu Vou Passar estão "de vento em popa"! Já estamos no sétimo módulo de aulas! Legal, não é? O primeiro módulo, a ser postado até a próxima semana, contemplará - entre outros assuntos relativos à prática textual - o conceito de escrever bem, as qualidades e os defeitos de um texto, a adequação vocabular, a estrutura do texto dissertativo, o tema e o título, a importância da informatividade, a argumentatividade e o perfil das principais organizadoras.
Como complemento do curso, escreveremos também alguns artigos referentes à redação. Neste primeiro, trataremos de alguns defeitos de argumentação que costumam aparecer em muitos textos, especialmente nos produzidos em situação de concurso.
Para discutir esses defeitos, vamos adotar a nomenclatura aprendida nos mestres Platão e Fiorin, em sua importante obra Para entender o texto:
I. Emprego de noções confusas;
II Emprego de noções de totalidade indeterminada;
III. Emprego de noções semiformalizadas,
IV. Defeitos de argumentação pelo exemplo, pela ilustração ou pelo modelo.

I Emprego de noções confusas
O emprego de noções confusas consiste em empregar um termo de abrangência muita ampla - como liberdade, justiça, democracia, ordem - sem que se realize uma restrição do alcance semântico dele. Esse procedimento argumentativo é, às vezes, involuntário. Todavia, sempre, diminui a força do que é dito, pois traz como consequência uma perigosa vagueza argumentativa.
Tomemos com o exemplo a palavra ordem nos dois casos a seguir.
Um governante indignado com as manifestações que se realizam semanalmente, alterando a rotina da cidade, pode alegar que:
 Em nome da ordem, precisamos reprimir essas manifestações que só atrapalham a vida da cidade, trazem transtorno aos seus cidadãos e aos que por ela transitam, sem nada gerar de positivo após a realização delas.
Por outro lado, baseado na amplitude de significação do mesmo vocábulo, um dos organizadores dessas manifestações pode dizer:
Precisamos instaurar uma ordem, de modo a combater o processo de exclusão que está vitimando a maioria dos cidadãos, quer eles estejam conscientes, quer não estejam.
Por ser tão amplo semanticamente, o vocábulo ordem serviu para embasar dois pontos de vista opostos sobre a mesma situação.

II Emprego de noções de totalidade indeterminada
Poderíamos traduzir e o emprego de noções de totalidade indeterminada como pecar pela generalização, qualificar todos os indivíduos de um grupo social, geográfico étnico ou funcional com base no comportamento de alguns ou da maioria.
Um exemplo seria a declaração de um cidadão indignado com uma recente denúncia de corrupção no Ministério:
É absolutamente inquestionável, a partir de mais esta denúncia, que os homens públicos deste país não primam pela honestidade. São todos corruptos e ocupam cargos para servir-se deles.
O que foi dito no exemplo acima perde a validade se for apontado apenas um exemplo de homem público honesto. Ainda que os fatos pareçam permitir o emprego das noções de totalidade indeterminada, ou seja, levem à tentação de generalizar - o redator prudente deve evitar tal procedimento. Para isso, ele pode recorrer a expressões como boa parte, uma parte de, a maioria, parcela significativa de etc.

III. Emprego de noções semiformalizadas
Empregar noções semiformalizadas consiste no emprego inadequado de certos conceitos por desconhecimento ou má-fé. É um equívoco que compromete a argumentação uma vez que ela acaba sendo amparada em impropriedade teórica ou discursiva.

Vejamos um exemplo colhido na já citada obra Para entender o texto, de Platão e Fiorin:
Não se deve negar ao cidadão o direito de protestar: isso já é comunismo.
Claro fica que o produtor do texto entende comunismo como um regime ditatorial, em que os cidadãos não têm o direito de reivindicar. Essa ideia é um equívoco uma vez que, em tese, um regime comunista não é antidemocrático, mas sim baseado na posse coletiva dos meios de produção.
Mesmo que as experiências de suposta aplicação do comunismo tenham resultado em governos opressivos, tal caráter não é, ao menos em teoria, típico desse modo de produção. Assim, a argumentação pautada na frase acima perde consistência.

IV. Defeitos de argumentação pelo exemplo, pela ilustração ou pelo modelo
Os defeitos de argumentação pelo exemplo, pela ilustração ou pelo modelo relacionam-se aos enganos quanto a informações e a dados citados em um texto. Em uma situação marcada por um certo nervosismo, como é a de um concurso público, o candidato pode se equivocar ao mencionar algum número ou informação.
O senão dessa natureza pode nascer também da concepção, perigosa, de que se pode enganar a banca como Neymar e Messi enganam os zagueiros. O candidato tenta então driblar a vigilância do leitor-corretor por achar que este, por não saber tudo sobre o assunto ou estar cansado demais para perceber incoerências,será ludibriado por um dado ou uma informação marotamente citados no texto.
Ainda que inveracidades (um belo nome para mentira, vocês não acham?) e imprecisões possam passar despercebidas, o candidato não dever empregar um expediente desse. Umleitor-corretor, bem-preparado e bem-informado, poderá achar, no mínimo estranho, algo que o candidato tenha escrito. Diante de tal impressão, é provável que ele averigue a validade do que leu e, constatando certas imprecisões, puna a redação com o decréscimo na nota.
Em uma redação cujo tem era a situação do ensino superior no Brasil, o redator para reforçar que esse nível da educação tem passado por avanços errou,grosseiramente, ao mencionar um dado:
Com o aumento do número de vagas oferecidas por universidades públicas, massobretudo pelas instituições privadas, o índice de matrículas no chamado terceiro grau cresceu 1.100% nos últimos dez anos. Essa expansão mostra o quanto evoluiu o nível de escolaridade do brasileiro.
Além de não citar a fonte de onde supostamente teria conseguido o dado, o redator incorreu num significativo erro no percentual. O aumento não foi de 1.100%, mas de 110%, conforme o Censo da Educação Superior, com base em dados de 2010.
O equívoco pode ter sido originado de uma distração ou de um excesso de imaginação. Todavia, o erro foi percebido e resultou em grande perda de pontos para o distraído redator, que baseou toda a argumentação em umvalor descabido.
É isso aí, pessoal!

Um forte abraço, um ótimo estudo e até a próxima!

Prof. Marcelo Bernardo
Prof. Jamesson Marcelino

marcelobernardo@euvoupassar.com.br
facebook.com/profmarcelobernardo

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